ENTREVISTA: EL COCINERO DE "SOPABRASIGUAIA" Guilherme Dreyer Wojciechowski




Guilherme Dreyer Wojciechowski
(Foz do Iguaçu - Paraná - Brasil) Es un gran conocedor de las costumbres fronterizas del Paraguay y del Brasil. Escribe y actualiza uno de los medios virtuales más leídos de la frontera binacional. Es un hombre culto, politizado, con opinones propias y conocedor de la política y de los políticos de los dos países. Nos conocimos también virtualmente, pero nuestras opiniones son reales y de mucha sinceridad e intensidad. A seguir, podrán disfrutar de esta excelente entrevista, la primera pedida y concedida a http://www.fgip.blogspot.com/

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1 - Como nasceu a idéia do blog destinado a falar sobre o Paraguai, sobre as fronteiras?

O Sopa Brasiguaia nasceu em 2005, de uma constatação banal: brasileiros sabem na ou muito pouco sobre o Paraguai. Eu e o Fernando, meu parceiro de blog, percebemos que até mesmo em Itaipu, empresa binacional, os funcionários brasileiros demonstravam um grande desconhecimento sobre o que ocorria do lado de lá, ignorando, por exemplo, que Itaipu está em Hernandarias, e não em Ciudad del Este. Outro fator que percebemos foi a dificuldade ou falta de vontade dos iguaçuenses em lerem textos em espanhol, ficando na dependência daquilo que os jornais locais publicam sobre o Paraguai. O que é muito pouco, diga-se de passagem.

2 - Qual é a atividade principal de vocês e em que horário trabalham para atualizar o blog?


Ao contrário do que muita gente pensa, não somos jornalistas. Na melhor das hipóteses, “cyber-periodistas”, como diz o Andrés Colmán Gutiérrez, este sim, um grande jornalista. Eu sou turismólogo e o Fernando é administrador. Fazemos todo o trabalho de leitura, checagem das fontes e escrita dos textos à noite, mas em horários e locais diferentes. O Fernando começa lá pelas 21h, indo até o comecinho da madrugada. Eu acordo antes do sol, lá pelas 05h, para finalizar a edição e colocar o conteúdo no ar, no máximo, até as 08h, que é quando começa o pico de acessos.

3 - Você conhece o Paraguai, sua historia, sua gente, sua política, sua cultura?


O Paraguai é um país maravilhoso, mas injustiçado. As pessoas costumam montar um estereótipo negativo do país, antes mesmo de viajar. Na mídia brasileira, por exemplo, só saem notícias ruins, contrabando, tráfico de drogas, etc. E o destino da maioria dos brasileiros não ajuda a melhorar essa percepção, já que o microcentro de Ciudad del Este não é o que se pode chamar de cartão-postal. Mesmo assim, basta se afastar um pouquinho da Ponte da Amizade para perceber que o Paraguai é muito mais do que compras. Particularmente, fico com a culinária e a hospitalidade do povo. Me sinto em casa em cidades como Asunción, Itacurubí de la Cordillera, e outras tantas que tive a oportunidade de conhecer em minhas andanças.

4 - O que você mais gosta do Paraguai e o que você detesta?


Há tantas coisas das quais gosto ou detesto no Paraguai que fica difícil dizer em uma única resposta. Gosto da comida, da hospitalidade, do clima interiorano das cidades paraguaias e da natureza do interior do país. O jeito de ser do paraguaio é muito interessante, por exemplo, se você perguntar a um motorista de ônibus se o trajeto passa por tal lugar, é provável que ele responda “si, pero no”, ou seja, “vai, mas não tão perto”; ou, então, “ahí nomás”, ou seja, “logo ali”. Agora, o que detesto, sem sombra de dúvidas, é a maldita corrupção, impregnada por todos os cantos. Não que no Brasil não haja corrupção, mas no Paraguai a coisa é escancarada. E detesto o verão também, quente demais para um pimentão como eu.

5 - Como você sente hoje a fronteira sobre a Ponte da Amizade?


É complicado traçar um panorama. Temos dois cenários distintos, um deles, é a retomada econômica, com a legalização dos sacoleiros e os projetos de industrialização; o outro é o marasmo, uma vez que as autoridades, e os próprios empresários, parecem não fazer muita questão de lutar contra a informalidade, que prejudica a todos. No meio disso tudo está o povo, cada vez mais desempregado e desesperado. Tanto no Brasil, como no Paraguai.

6 - O que você acha do contrato de binacional Itaipú? Você escreveu sobre isso e eu fiquei surpreso com as informações detalhadas que você deu ao respeito. Fale sobre isso.


Trabalhei três anos em uma instituição mantida por Itaipu. Nesse tempo, pude conhecer com detalhes o Tratado de Itaipu e a forma como ele é utilizado, por exemplo, como escudo para evitar auditorias. Há uma distorção nos termos do tratado. Teoricamente, Brasil e Paraguai deveriam ter tratamento igual desde o começo, mas não foi bem assim. A chamada binacionalidade dificulta investigações sobre o custo real da energia de Itaipu, que de acordo com o tratado, deveria ser vendida a “preço justo”. Só que o “preço justo” pago pelo Brasil é diferente do “preço justo” reivindicado pela oposição paraguaia, por exemplo. Enquanto isso, o dinheiro que deveria ser do povo vai para obras ditas sociais e contratos escusos assinados com empreiteiras “amigas”, conforme as denúncias quase que diárias publicadas na imprensa paraguaia. Como contribuinte, me sinto ultrajado.

7 - Como você vê hoje a política no Paraguai? Quem você acha que pode ganhar as eleições de 2008 e quais as conseqüências imediatas que você prevê?


O Partido Colorado está no poder desde 1947. Não creio que vá largar o osso tão fácil. Em minha opinião, apesar da influência do presidente Nicanor Duarte Frutos, que apóia a pré-candidata Blanca Ovelar, Luis Castiglioni vencerá as prévias coloradas. O que não quer dizer muita coisa, diga-se de passagem. Como o próprio Nicanor já disse, apesar das divergências de agora, os colorados são todos “amigos”. Enquanto isso, a oposição se divide entre Fernando Lugo e Lino Oviedo, candidatos que, teoricamente, estariam impedidos de disputar a eleição, cada qual por seu motivo. Mesmo assim, acho que tanto Lugo, quanto Oviedo, serão candidatos e patinarão, cada qual com seus 20%, enquanto Castiglioni chegará aos 35% e será eleito. Ou seja, apesar das promessas, não mudará quase nada, pois as pessoas e as filosofias seguirão sendo as mesmas. A diferença é que, desta vez, teremos um ex-prefeito de Ciudad del Este na vice-presidência. Talvez mude alguma coisa.

8 - Conhece e gosta do “Socialismo de século XXI” do Chávez, Morales, Correa?


Não creio que esta corrente mereça ser chamada de socialismo. Está mais para “chavismo”, “evismo” e demais políticas centradas na personalidade de seus líderes. De qualquer forma, algumas das propostas são interessantes, como a valorização dos heróis locais, a produção de filmes, documentários e programas de televisão sobre temas latino-americanos, etc. Precisamos nos enxergar como somos, para termos orgulho de pertencermos a esta cultura. Só assim poderemos crescer, no individual e no social, como um todo.

9 - Como você vê a América Latina política e economicamente? Sabe alguma coisa do Chile e da Colômbia?


O Chile e a Colômbia são casos interessantes. Quando lembro da Colômbia, em 1994, lembro da Copa do Mundo, mas não do futebol. Lembro da morte do zagueiro Escobar, vítima dos cartéis de traficantes. De lá para cá, a situação melhorou bastante. As máfias perderam influência e o governo, e até mesmo as FARC’s, conseguiram resgatar o sentimento de civismo, cada qual à sua maneira. Quanto ao Chile, só tenho elogios. A chamada “esquerda culta” latino-americana parece ter aprendido a lição e colocado o país nos trilhos, basta ver os indicadores sociais e econômicos. O Chile ganha disparado em todos os quesitos.

10 - Ideologicamente, como você se posiciona e por que?


Voto sempre em partidos de esquerda, mas não creio que os antigos modelos pregados por alguns sejam adequados ao nosso tempo e à nossa realidade. Por outro lado, tampouco os partidos de centro ou de direita conseguem encarnar uma saída palpável, fora do capitalismo, cada vez mais selvagem e centrado nas mãos de grandes corporações. Terceira via, ou segunda, é utopia. Infelizmente, temos que lutar com os recursos que temos, com o poder político cada vez mais submetido ao poder econômico.

11 - Lula: herói o culpado?


Nem um, nem outro. As pessoas têm mania de endeusar os governantes, quando a base da governabilidade não está na presidência, mas no parlamento. E quantos se lembram em quem votaram para deputado ou senador? Quais foram os critérios utilizados para essa escolha? Isso sim me preocupa. Aqui em Foz do Iguaçu, por exemplo, havia uma campanha para que todos votassem em um único candidato, que todos sabiam que era ruim. Se todas as cidades agissem assim, teríamos 500 picaretas no Congresso, com o único mérito de ser da cidade “x” ou “y”. Se bem que, pensando melhor, não estamos muito longe disso. Lula, sozinho, não faz nada sem sua base aliada. Esta sim é o problema.

12 - FHC: mudanças profundas ou camuflagem?


FHC trouxe o Plano Real. Lembro dessa mudança como se fosse ontem. Não creio que seu governo tenha sido ruim, mas a alternância, depois de oito anos de mandato, era necessária. O mesmo acontecerá em 2010, com a saída do Lula. O que os nossos governantes precisam, na verdade, é ter mais inteligência e menos vaidade. Alternância é sempre benéfica, desde que os atuais governantes não destruam o bom trabalho dos antecessores. Princípio básico da gestão pública.

13 - Collor. Foi um mal necessário para o Brasil?


Collor abriu o mercado brasileiro para a produção externa. Creio que se continuássemos fechados, como antes, hoje seríamos uma espécie de Albânia. Só que as pessoas que votaram no Collor, não votaram de forma racional. Entre o “sapo barbudo” petista e o “galã alagoano”, o segundo venceu. Alguém lembra do partido de Collor? Como é que uma legenda completamente desconhecida consegue, da noite para o dia, eleger um presidente? Mistérios que só a inexperiência democrática do brasileiro explica. Felizmente, acho que superamos essa fase.

14 - PT. Como era antes e como é hoje?


O PT era uma ótima oposição, até virar governo. Para chegar ao poder, teve que se aliar com o PL, atual PR. Partido de esquerda aliado com liberal? Parece piada, não? No entanto, é o que ocorre também no Paraguai, com o ex-bispo Fernando Lugo aliando-se ao Partido Liberal Radical Autêntico. De qualquer forma, se ficasse apenas na linha dura, o PT jamais teria chegado ao poder. No mais, não creio que seu governo seja tão ruim, como dizem. É apenas mais do mesmo.

15 - Acredita na integração regional?


Dizer que não acredito seria uma heresia. Creio que a integração regional seja a face humana da globalização. E não falo apenas de economia, mas, principalmente, de cultura. Em uma região como a Tríplice Fronteira, com 70 etnias e três países, Brasil, Paraguai e Argentina, integração é fundamental. Afinal, se o homem não é uma ilha, como dizia Thomas Mann, tampouco as empresas, a cultura e os países o são.

16 - Qual é o seu sonho de garoto? É casado, solteiro, profissão, hobby, autores preferidos, filmes, time do coração, amigo de infância.


São muitos, mas, pegando apenas o básico, sempre quis me graduar, encontrar uma mulher que me ame, ver meu time campeão brasileiro e ser reconhecido pelo que faço. Felizmente, o Atlético foi campeão em 2001, ano em que entrei na universidade. Ainda não sou casado, mas tenho uma companheira fenomenal ao meu lado, que me garante a tranqüilidade para me dedicar ao resto. E além do trabalho no Sopa Brasiguaia, estou colhendo os frutos fora também. No mais, não vivo sem um punhado de livros, música e jornais. Comecei lendo seis por dia, hoje leio mais de dez. Isso não toma meu tempo, muito pelo contrário, engrandece, abre portas e estreita laços. Vivo uma vida sem luxos ou desperdícios, afinal, quem precisa disso? Os homens precisam reaprender a conviver consigo mesmos.

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