O BRASIL E O BRICS

FÉLIX GERARDO IBARRA PRIETO


Dia 27 de abril de 2012, a convite da FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão - dependente do MRE do Brasil no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro, participei de uma Agenda Internacional, cujo II Mesa redonda se denomina: O Brasil e o Brics. Foi uma reunião de alto nível, que durou apenas cinco horas, mas pela qualidade dos conferencistas e debatedores equivaleu a curso rápido de 100 horas.

Organizado e comandado pelo presidente da entidade embaixador José Vicente Sá Pimentel, teve a participação ilustre dos diplomatas que trabalham diretamente nesse Fórum (BRICS), como a embaixadora Maria Edileusa e o embaixador Flávio Damico.

Assim como representantes dos diversos órgãos públicos, entidades autárquicas, universidades públicas e privadas, entre os quais representantes dos ministérios da Fazenda, IPEA, Ministério da Agricultura, PUC, FGV, USP e neste caso Unama, especificamente o curso de Relações Internacionais, o qual eu representava. Aliás, a única instituição presente da região norte do Brasil.

A Mesa redonda começou com a exposição da embaixadora Edileusa, dando ênfases aos trabalhos já realizados e deixando bem claro que tudo está apenas no início.

Seguidamente, o presidente Marcio Pochmann do IPEA enumerou os 17 objetivos declarados na última reunião realizada em Nova Délhi, na Índia. Enfim, os três palestrantes tiveram em média 15 minutos para dar a sua exposição e assim poder começar o debate, para qual eu e outros professores e autoridades fomos convocados.

Devo deixar aqui os agradecimentos, em nome da minha universidade e do curso que coordeno a oportunidade de poder estar presente em uma reunião tão significativa. O tratamento recebido por parte da organização do evento foi dez, desde o aeroporto até o hotel e vice-versa.

Discussões da Agenda O Brasil e os Brics

Começou com umas perguntas meio esquisitas e sem nexo, tal como: qual era o custo do Brasil estar no grupo do BRICS? Nada, absolutamente nada. Outra coisa, poderia não estar e, aí sim, o custo seria muito alto.

Dizem as más línguas que o México não foi colocado no acrónimo porque a letra M não rimava com o restante das consoantes. Repare que só existe uma vogal na sigla e fica meio difícil achar uma boa pronuncia algo que seja palatável aos olhos da imprensa internacional.

Essa denominação – BRIC - foi criação de um banco, o Goldman Sach, por parte do economista O’neill, identificando oportunidades de crescimento nestes países e que os bancos reparassem nisso.

Outra coisa bastante interessante é que esses países são ou foram comunistas, no mínimo com um governo socialista de pensamento marxista, como é caso do governo brasileiro.

E todos eles acreditaram cegamente na teoria do banco. Ou seja, foi uma oportunidade muito boa e como ninguém é mais bobo na corte do mundo capitalista, comunistas ou não, entraram no jogo.

Partindo da preocupação do Brasil em saber o que fazer, ou o que querer com essa grande oportunidade, é a grande questão. BRICS não é uma criação intergovernamental, como MERCOSUL e UE.

BRICS, agora com a letra S no final, porque a África do Sul (South Africa) foi incorporada a ele de uma forma que continua palatável a pronuncia e, além disso, acrescentou um grande continente e um país que tem muitas oportunidades de crescimento entre outros. BRICS não tem objetivo, não tem metas, é uma coisa a ser construída, uma plataforma de diálogo entre países a nível global, como disse Dilma em seu discurso, em recente Reunião da Cúpula.

Embora, sejam diferentes em geopolítica e cultura, tem as metas e necessidades bem parecidas: o bem estar de seus povos. Existe uma barreira importante a ser vencida: o desconhecimento mútuo entre os países, segundo o professor Enrique Altemani, também presente na Mesa.

Brasil está em busca de ideias e, além disso, compactá-las e arrumá-las. E era essa a oportunidade de ouvir as instituições e a academia. Nas academias a sensação que se tem do BRICS é meio vazia ainda, ou seja, não há bibliografia consistente e isso não gera trabalhos científicos interessantes.

Os orientadores não alentam muito esse caminho por essas e outras dificuldades acadêmicas: além da falta de metas e objetivos definidos, ainda falta que os países definam suas agendas entre eles.

Recentemente, em um artigo publicado pelo analista político argentino Andrés Oppenheimer, surgiu o seguinte comentário por parte do ex-presidente peruano Alan García: “el bloque de las potencias emergentes constituido por Brasil, Rusia, India, China y Sudáfrica – ya podría llamarse ‘RICS’, una sigla que incluye a los mismos países, menos Brasil”. Também poderia ter sido “RIMC”.

Não podemos esquecer que Brasil é o país do grupo que tem a maior renda per capita, embora a China seja a segunda maior economia do mundo e, por enquanto, o Brasil a sexta. Ele responde por U$10.800; a Rússia U$10.500; China U$3.800; e a Índia por U$3.500. Então, desde esses dois pontos de vista não me parecem que o Brasil esteja no grupo por acaso.

Sorte também é preciso e a estas alturas já não podemos discutir o custo de ser parte, nem se deveria estar ou não estar.

O país deve pensar o que pode ganhar com isso e o que pode oferecer aos demais. Não podemos esquecer que isto é apenas uma troca de interesses e que a isso muitas vezes chamam de cooperação. Nesse sentido, o diplomático e experiente ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, presente na Mesa representando a poderosa FIESP, cutucou a atual diplomacia brasileira como morna no assunto.

Ele acha que o Brasil deveria discutir os temas com mais agudeza. Dar mais sentido ao grupo, gerar mais resultados, enfim, ser mais pragmático.

Em minha opinião, a primeira coisa que o Brasil deveria fazer é identificar os seus interesses e logo a seguir identificar os interesses dos outros parceiros. Assim na mesa de negociações não haverá nenhuma surpresa, nem resposta que não possa ser dada na hora.

Por exemplo, o Institute Policy Brics, comandado pelo professor João Nogueira, disse na oportunidade que o grupo do Brasil foi surpreendido pelo grupo da Índia ao propor um banco BRICS. É uma bela ideia e muito interessante para os indianos já que necessitam de fontes de financiamento.

Em vez de financiar as dívidas do tesouro americano (caso Brasil e China), poderiam pelo menos, com uma parte das reservas, financiar seus desenvolvimentos. Certamente, uns dos interesses do Brasil a ser identificado rapidamente pelos outros é a sua sempre intenção de buscar um lugar no CSNU.

DESTAQUE NA MIDIA

Também os embaixadores do Itamaraty reclamaram do pouco interesse da imprensa brasileira no assunto. Os outros países membros dariam mais destaques às ações e propostas ao grupo.

Nesse sentido, tenho também uma posição pessoal: alguns integrantes da Mesa Redonda e, principalmente, membros da diplomacia do Brasil destacam alguns resultados alcançados mediante a união do grupo BRICS.

Seria o aumento de representantes do Brasil em alguns fóruns multilaterais importantes, como o FMI, por exemplo. Isso aconteceu porque o Brasil, embora no passado tenha sido o diabo na cruz para o ente, hoje é parte do “diabo” o FMI. Ou seja, é financiador.

A mídia destaca, em pelo menos 90% das manchetes, as ações do ator Estado. São as suas ações as notícias mais relevantes do dia a dia em qualquer país do mundo, seja ele democrático ou não.

Mas essas ações dos governos que são destaques na mídia local, geralmente, são resultados de alguma ação cujo resultado atinge muita gente. Ou seja, enquanto os benefícios de estar no grupo BRICS seja apenas para duas ou três diplomatas, isso não vai gerar notícias. É preciso que chegue às pessoas.

A mídia tem a sua lógica: vender. Obviamente que uma noticia em destaque do BRICS não lhe interessa a maioria, logo não é notícia. Isso acontece com o MERCOSUL.

No início foi capa de jornais e revistas havia uma grande esperança, porém, 20 anos depois, está sumido naquelas páginas que ninguém lê. Sergio Léo, do jornal Valor Econômico, estava na Mesa Redonda e tentou se explicar: faltam resultados concretos, disse ele no final.

DIFICULDADES E OPORTUNIDADES ENTRE OS MEMBROS BRICS.

Estudos científicos e autores renomados identificaram algumas dificuldades e outras oportunidades que devem ser levados em conta para propor uma cooperação mais audaciosa entre os membros.

Por exemplo, o Brasil tem muita pobreza, deficiência em educação, infraestrutura, é corrupto e pior sem punição alguma. Aqui um ministro acusado de corrupção deixa o Ministério e assume sua cadeira no Senado na maior tranquilidade. Além disso, lhe falta mão de obra especializada e energia suficiente como crescer acima de 5% ao ano.

As oportunidades identificadas no Brasil são: democracia consistente, liderança regional, paz nas fronteiras, inclusão social, redução da pobreza e analfabetismo, política externa bem constituída e abundante matéria prima, seja pré-sal ou minérios.

Em relação à Rússia foram identificadas as seguintes dificuldades: crises com os vizinhos (Chechênia e Geórgia), redução demográfica que é preocupante. Além disso, o alcoolismo excessivo dos russos é o pior e diminuição da expectativa de vida.

Também não escapa da corrupção nem da máfia. E o principal, tem dependência econômica das suas fontes energéticas.

As oportunidades nele identificadas são: amplo território, muita energia, crescimento econômico, capacidade militar (Hard Power), população educada e democracia em construção: tem apenas dois políticos conhecidos, Putin e Medvedev. O segundo é afilhado do primeiro.

Na Índia foram identificadas as seguintes deficiências: muita pobreza, desigualdade, alto índice de analfabetismo entre as mulheres, principalmente. Divisão em Castas, desníveis regionais, assim como no Brasil. Ademais, questões étnicas e religiosas graves.

Por último tem infraestrutura muito precária e geopolítica complicada. Possui um vizinho destemperado e com bomba atômica: Paquistão.

As oportunidades encontradas neste país asiático são: democracia, elite educada, indústria nacional diversificada, liderança em tecnologia.

Finalmente, na China as deficiências são: população altamente ruralista, geopolítica difícil (Taiwan), dependência de água e de matérias primas; regime autoritário e muitos problemas ambientais.

As oportunidades são: é praticamente a fábrica do mundo; liderança comercial mundial em consequência; tecnologia, estabilidade política, embora ditatorial e avance na educação.

Estão aqui citadas algumas das oportunidades com outras dificuldades para que sejam analisadas e a partir disso a construção das agendas de cooperação entre os membros sejam iniciados o mais rapidamente possível como sugere o ex-embaixador Rubens Barbosa.

Estaremos atentos as novidades do terceiro encontro que será na sede da FIESP no dia 31/07/12. até lá!




















































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